sábado, 22 de junho de 2013

Os Protestos de Hoje e o Protesto de Lutero

A sociedade brasileira, nestas últimas semanas, têm vivenciando uma onda popular de protestos. Parece que tudo começou por conta de R$ 0,20 (20 centavos) numa tarifa de transporte público. No entanto, percebemos que a revolta e os manifestos vão muito além desta pequena cifra. Os jovens e a sociedade em geral têm se revoltado e protestado contra o “mau uso” e abuso do poder. A sociedade está cansada da falta de ética e ausência seriedade na condução da vida política e social do país. É um aglomerado de razões que faz o povo unir-se em protestos, passeatas e ações das mais diversas.
Não posso afirmar com total certeza, mas suspeito que hoje é um dia especial! Não sabemos ao certo se foi nesta data, mas, ao que parece, no dia 20 de junho de 1520 foi divulgado pela primeira vez um dos textos mais famosos do protesto de Lutero para Reforma da Igreja e Sociedade. O escrito intitulado À Nobreza cristã da Nação Alemã, acerca da melhoria do Estamento Cristão foi um marco no protesto de Lutero e seus pares. Desenvolvendo com mais especificidade a Reforma, o texto propunha uma mudança que viria a transformar todo o curso da história medieval e moderna.
O texto ao qual me refiro é um importante aporte para o tempo político e social que vivenciamos atualmente no Brasil. Tal como hoje, na época de Lutero havia um crescente descontentamento com o domínio e a exploração do poder. Os governantes e a elite defendiam apenas seus privilégios. O povo, por sua vez, vivia à mercê de sua própria sorte. Restava-lhes apenas o clamar pela “providência” divina!
O protestante Martim Lutero foi extremamente crítico em suas posições políticas, religiosas e sociais. Mas, de modo algum foi vazio, evasivo ou apenas eufórico e emotivo (como num fogo de palha!). Antes, seu protesto era consistente e permeado de argumentos plausíveis. Sempre, em todos os seus escritos e posicionamentos, Lutero propunha mudanças e melhoramentos concretos para a vida da população.
Tal como nos dias de hoje, Lutero e seus companheiros, amigos e parceiros de protesto, sabiam da urgência e emergência de mudanças drásticas. Em suas colocações e manifestações trataram de lembrar aos políticos, aos nobres e ao povo em geral que “todos” temos deveres a cumprir. Temos obrigações enquanto membros da sociedade na qual vivemos. Para que haja mudança, deve haver posturas reformistas em todos os níveis: sociedade, política, família e individuo.
O Reformador Lutero, líder dos protestos iniciados em 31 de outubro de 1517, chamou, convocou e conclamou a todas as pessoas para pensar, fomentar e criar iniciativas de real mudança e melhoramento. Ninguém – repito – ninguém, deveria omitir-se diante da crise e muito menos abdicar de sua tarefa pessoal e intransferível no processo de consolidação da vida plena, justa e fraterna.
Devemos nos espelhar no movimento protestante do século XVI para, corretamente nos afirmar nos movimentos de protesto do século XXI aqui no Brasil. Lutero era contra o privilégio que alguns tinham, em contraposição ao desprestígio que a grande maioria sofria. Ele apontou clara e diretamente o que deveria ser melhorado, reformado e transformado na Igreja, na política e na sociedade (uma vez que, em sua época, não havia separação tão clara entre estas esferas).
No texto de Lutero, anteriormente referido, de forma clara e concisa, são apontadas 27 propostas de melhoramento para a sociedade da época. O objetivo do texto é luzente: quer mudar o que não está bom, abolir o que não serve e transformar o que precisa ser restaurado. Aquilo que não é aceitável para uma vida justa, não deve ser tolerado nem pelos governantes, nem pela população. Lutero quer que haja justiça clara diante das pessoas humanas, de modo que isto reflita, pelo menos um pouco da justiça que Deus almeja para seus filhos e filhas. A vida plena somente haverá no Reino Eterno de Deus. Mas, já devemos aqui e agora labutar em prol de vida digna para todas as pessoas.
Para os protestantes dos dias atuais; para aqueles e aquelas que movimentam o povo nas ruas e na internet, fica a dica: façamos propostas concretas! Sejamos claros em nossas proposições! Precisamos organizar nosso pensamento e nossas sugestões para que nossos governantes atuem em favor do povo. E nós devemos contribuir também. Nossas posturas pessoais devem refletir o que pensamos ser o correto
Lutero, mesmo que quase 500 anos depois, ainda tem muito a nos ensinar sobre o que é, verdadeiramente, “protestar”!
Ministro Candidato Marcelo Peter
Pato Branco/Sínodo Rio Paraná
Matéria publicada no BLOG Rascunho de Ideias e autorizada pelo autor para ser compartilhada no BLOG e SITE do Sínodo Planalto Rio-Grandense.

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