Foi solicitado que publicássemos aqui no BLOG o artigo publicado na Página 12 da Edição 26 do Jornal Sinodal O Planalto, texto esse escrito pelo P. Emérito Günter Adolf Wolff. Reação ao texto podem ler aqui no BLOG: http://www.sinodoplanalto.blogspot.com.br/2012/10/subsistencia-ministerial-defasagem.html
Somos pobres!
A APPI - Associação de Pastoras e Pastores da IECLB - está fazendo uma luta pela reposição da Subsistência Ministerial defasada desde 1997 entre 70% a 80% (em 1997 a Subsistência Ministerial com o Adicional Previdenciário estava em 9,1 salários mínimos e hoje está em 4,8 salários mínimos) e está pedindo uma reposição salarial de 20% para 2013 e mais 20% em 2015. Posso muito bem me imaginar as reações nos Conselhos Paroquiais onde as pessoas dirão: "Não podemos repor estas perdas salariais porque isto vai onerar demais os nossos membros, pois somos uma paróquia pobre e os nossos membros são pobres!"
Se os membros da IECLB são em sua maioria pobres, o que é de fato verdade, então a sua paróquia está fazendo um trabalho de base com estes pobres para acabar com a sua pobreza e a pobreza em geral, atacando as raízes da pobreza?
A sua paróquia está fazendo um trabalho de base com o MST - Movimento dos Sem Terra - na luta pela Reforma Agrária para que os/as filhos/as dos pequenos agricultores, que não tem condições de comprar terra para seus filhos/as, possam ser assentados no programa de reforma agrária do governo federal? Não?
A sua paróquia está fazendo um trabalho de base com o MPA - Movimento dos Pequenos Agricultores - na luta pelas sementes crioulas para baixar o custo de produção no plantio e contra as sementes transgênicas que nos subordinam aos interesses das multinacionais das sementes e dos venenos? Não?
A sua paróquia está fazendo um trabalho de base com o MMC - Movimento de Mulheres Camponesas - para lutar pela igualdade de gênero, salarial e iguais condições de vida para todos e todas e pela preservação das sementes crioulas para ficarmos independentes dos interesses das multinacionais, do veneno e das sementes transgênicas, que nos exploram e ameaçam a biodiversidade? Não?
A sua paróquia está fazendo um trabalho de base com o MAB - Movimento de Atingidos por Barragens - para lutar contra a expropriação das terras dos pequenos agricultores à beira dos grandes e médios rios onde o grande capital quer construir barragens para lucrar com a venda da energia e para as grandes empresas capitalistas poderem produzir mercadorias baratas para poderem competir no mercado internacional à custa da expulsão dos pequenos agricultores de sua terra? Não?
A sua paróquia está fazendo um trabalho de base com o Movimento Sindical, tanto da cidade como no campo, para que haja preços justos para os produtos agrícolas, para que haja produtos que não ameacem a saúde dos consumidores e para que haja um salário digno para os/as operários/as e condições dignas, saudáveis e humanas de trabalho? Não?
A sua paróquia está fazendo um trabalho de base com os movimentos ecológicos na luta contra o agronegócio que quer destruir o ecossistema Amazônico, o Cerrado, o Pantanal, a Caatinga e o que resta da Mata Atlântica? Não?
A sua paróquia está fazendo um trabalho de base com a CPT - Comissão Pastoral da Terra - na luta contra o trabalho escravo promovido pelo agronegócio e pela reforma agrária? Não?
A sua paróquia está fazendo um trabalho de base com o MTD - Movimento dos Trabalhadores Desempregados - para que haja emprego digno e dignamente remunerado para todas as pessoas? Não?
A sua paróquia está fazendo um trabalho de base com o MTST - Movimento dos Trabalhadores Sem Teto - para que haja moradia digna para todas as famílias neste país? Não?
A sua paróquia está fazendo um trabalho de base com o movimento agroecológico pela reforma agrária, pela produção de alimentos saudáveis e contra os agrotóxicos? Não?
Então eu não entendo este argumento de que a sua paróquia é pobre e que os membros da IECLB são pobres se não estão fazendo nenhum trabalho de base para acabar com a pobreza e as suas raízes encravadas no sistema econômico capitalista predador. O Concílio Geral de 1982 já ordenou para se fazer um trabalho de base na paróquia com os pobres para acabar com a pobreza e as injustiças neste país e a sua paróquia ainda hoje, 30 anos depois, não tem nenhum trabalho de base que ataque as causas da pobreza. Para relembrar a ordem deste Concílio a cito e também o que diz parte da Mensagem deste Concílio:
"Para que todos possam usufruir das dádivas do Criador, agindo responsavelmente diante delas, propomos o seguinte:
- realizar campanha de ampla informação e conscientização dos problemas agrários e urbanos:
- apoiar o agricultor na sua luta pela permanência no campo:
- assumir e defender com responsabilidade evangélica as reivindicações dos movimentos sociais, fazendo um trabalho de base com associações de bairros, atingidos por barragens, colonos sem terra, bóias-frias, sindicatos, proteção ambiental, além de inúmeras outras formas de atuação onde o amor de Deus quer se tornar vivo e real entre as pessoas."
Cito também parte das decisões deste Concílio:
"Apoio engajado e consciente ao pequeno agricultor e à pequena indústria, dentro da perspectiva de um modelo simples de vida, decorrente do próprio Evangelho. Por isso apoiar:
a) Movimentos populares, associações de bairro, órgãos de classe, sindicatos dos trabalhadores rurais, cooperativismo sadio.
b) Projeto de CAPA (Centro de Aconselhamento ao Pequeno Agricultor), LACHARES, grupos em defesa da ecologia e ambiente natural
c) Movimentos no espírito de não violência
d) As prioridades de ação da IECLB e confessionalidade luterana".
Se depois de 30 anos a sua paróquia ainda não tem nenhum trabalho de base com os movimentos sociais e sindicais que ataque frontalmente as raízes da pobreza então os seus argumentos não passam de farisaísmo demagógico e sem vergonha. Por que? Porque na verdade na sua paróquia só tem pobres no exato momento, e tão somente, enquanto se discute o orçamento da paróquia para o ano seguinte. O argumento da pobreza só existe para conseguir baixar os custos da contribuição dos membros e não há nenhuma preocupação com os pobres e com um trabalho de se acabar com a pobreza e suas raízes históricas. Após esta discussão os pobres e a preocupação com eles desaparecem. Isto é demagogia e farisaísmo.
Não só isso, mas isto é traição ao santo Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo que ordena acolhermos as vítimas do sistema deste mundo, como está escrito claramente em Mt 25.31-46.
Pior ainda: aposto que se o/a pastor/a quisesse ou estivesse fazendo um trabalho de base com o MST, MPA, MMC, CPT, MTST, MTD, etc. a paróquia não renovaria o TAM e na Avaliação este/a pastor/a receberia como conseqüência de seu trabalho a resolução de ter que se afastar desta paróquia porque os membros não admitem que seu/sua pastor/a faça um trabalho de base com os pobres que vá além da distribuição de roupas velhas e de alguns alimentos.
Então, não me venha com esta conversa demagógica e farisaica de que a Igreja tem que olhar para os pobres se a sua paróquia nunca olhou para os pobres, nem os acolheu e nunca fez nenhum trabalho de base para organizar os pobres através de suas entidades de classe e para em conjunto com eles lutar contra as raízes da pobreza.
Palmitos, 1° de maio de 2012.
Pastor Emérito Günter Adolf Wolff
Obrigado por atenderem o meu pedido.
ResponderExcluir