A humanidade ainda busca compreensão
para entender eventos como o terremoto e tsunami que deixaram mais de oito mil
mortos, milhares de desaparecidos e centenas de pessoas desabrigadas no Japão.
Além de uma possível ameaça nuclear, estimulando a incerteza. Na madrugada do
último sábado, na cidade de Santa Maria (RS), um incêndio em uma boate destrói
a vida de inúmeras pessoas. Uma pergunta inquietante desperta na população:
“como Deus poderia deixar isso acontecer?”. Em tempos de angústia as pessoas
encontram conforto em sua fé. O Rabino Harold
Kushner, autor do livro: “Quando coisas ruins acontecem às pessoas boas”,
ajuda-nos no entendimento das adversidades da vida, destacando:
Sempre que um
desastre acontece, eu volto para a Bíblia, o Primeiro Livro dos Reis. “Depois
do terremoto houve um fogo, mas o Senhor não estava nele” (1Rs 19.12). Elias,
em desespero sobre a situação em Israel, corre para o deserto, de volta para o
Monte Sinai para encontrar com Deus.
Segundo o autor, essa é a chave: o Senhor não estava no terremoto e no
fogo. Deus se preocupa com o bem-estar
das pessoas de bem.
Catástrofes climáticas ocorrem em
diversas regiões do mundo. Descuidos lamentáveis na infra-estrutura e na
segurança de aeroportos, shoppings, boates, ambientes que reúnem multidões de
pessoas são outros fatores agravantes. Os
questionamentos mais complexos são necessários. Onde está Deus no Japão hoje?
Onde está Deus em Santa
Maria hoje? Ele está na
coragem das pessoas que continuam suas vidas após a tragédia. Na resistência
das pessoas cujas vidas foram destruídas, famílias arrasadas, casas perdidas,
mas que diante do sofrimento lutam para reconstruir suas vidas. Na bondade e
generosidade das pessoas de diversos lugares do mundo ao ajudar estranhos,
pessoas de raças e religiões diferentes, para orar por eles e chorar com eles.
Como as pessoas demonstram sensibilidade sem a presença de Deus? A presença de
Deus oferece união e cooperação, amparo e encorajamento mútuo, a possibilidade
de encontrar a fé em meio ao desastre. Acontecimentos trágicos remetem a
natureza impermanente de nossas vidas e nos sensibilizam. O mais importante é
amar o outro, estar lá para o outro, reconhecendo cada momento da vida como
dádiva de Deus. É o que podemos fazer pelas
pessoas que morreram, pela memória de tantos sonhos que se partiram em poucas
horas.
Deus não pode fazer nada para impedir
catástrofes e sofrimentos? A única
resposta encontrada em minhas próprias dúvidas é reconhecer que coisas terríveis
também acontecem às pessoas inocentes. Este entendimento inspira compaixão
diante de pensamentos como: "isso pode ser parte do plano de Deus";
ou "não há acidentes na vida"; ou "todo mundo em algum nível,
recebe o que ele ou ela merece" - essas idéias não são apenas estúpidas,
são idéias extremamente insensíveis. Sentimentos que recusam perceber o
sofrimento de outros seres humanos. Neste momento, é hora de “crescer
espiritualmente” no cuidado e no bem-estar de outros irmãos e irmãs. É perfeitamente
possível fazer a diferença em meio às dores deste mundo. Que o povo do Japão saiba que Deus não esqueceu
deles, que o povo de Santa Maria e de tantos outros lugares saibam que Deus os
ama imensamente.
“Tudo passou. Já não
precisam mais navegar, enfrentar ondas e vencê-las. Alegram-se por
estarem em casa, no Reino da vida sem fim. E assim viverão para sempre
pelos séculos dos séculos.”(Leonardo Boff).
Sidnei Budke
Ministro Religioso da IECLB
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