quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

ENCONTRANDO A FÉ EM MEIO AO DESASTRE



A humanidade ainda busca compreensão para entender eventos como o terremoto e tsunami que deixaram mais de oito mil mortos, milhares de desaparecidos e centenas de pessoas desabrigadas no Japão. Além de uma possível ameaça nuclear, estimulando a incerteza. Na madrugada do último sábado, na cidade de Santa Maria (RS), um incêndio em uma boate destrói a vida de inúmeras pessoas. Uma pergunta inquietante desperta na população: “como Deus poderia deixar isso acontecer?”. Em tempos de angústia as pessoas encontram conforto em sua fé.  O Rabino Harold Kushner, autor do livro: “Quando coisas ruins acontecem às pessoas boas”, ajuda-nos no entendimento das adversidades da vida, destacando:

Sempre que um desastre acontece, eu volto para a Bíblia, o Primeiro Livro dos Reis. “Depois do terremoto houve um fogo, mas o Senhor não estava nele” (1Rs 19.12). Elias, em desespero sobre a situação em Israel, corre para o deserto, de volta para o Monte Sinai para encontrar com Deus.  Segundo o autor, essa é a chave: o Senhor não estava no terremoto e no fogo.  Deus se preocupa com o bem-estar das pessoas de bem.

Catástrofes climáticas ocorrem em diversas regiões do mundo. Descuidos lamentáveis na infra-estrutura e na segurança de aeroportos, shoppings, boates, ambientes que reúnem multidões de pessoas são outros fatores agravantes.  Os questionamentos mais complexos são necessários. Onde está Deus no Japão hoje? Onde está Deus em Santa Maria hoje?  Ele está na coragem das pessoas que continuam suas vidas após a tragédia. Na resistência das pessoas cujas vidas foram destruídas, famílias arrasadas, casas perdidas, mas que diante do sofrimento lutam para reconstruir suas vidas. Na bondade e generosidade das pessoas de diversos lugares do mundo ao ajudar estranhos, pessoas de raças e religiões diferentes, para orar por eles e chorar com eles. Como as pessoas demonstram sensibilidade sem a presença de Deus? A presença de Deus oferece união e cooperação, amparo e encorajamento mútuo, a possibilidade de encontrar a fé em meio ao desastre. Acontecimentos trágicos remetem a natureza impermanente de nossas vidas e nos sensibilizam. O mais importante é amar o outro, estar lá para o outro, reconhecendo cada momento da vida como dádiva de Deus.  É o que podemos fazer pelas pessoas que morreram, pela memória de tantos sonhos que se partiram em poucas horas.

 Deus não pode fazer nada para impedir catástrofes e sofrimentos?  A única resposta encontrada em minhas próprias dúvidas é reconhecer que coisas terríveis também acontecem às pessoas inocentes. Este entendimento inspira compaixão diante de pensamentos como: "isso pode ser parte do plano de Deus"; ou "não há acidentes na vida"; ou "todo mundo em algum nível, recebe o que ele ou ela merece" - essas idéias não são apenas estúpidas, são idéias extremamente insensíveis. Sentimentos que recusam perceber o sofrimento de outros seres humanos. Neste momento, é hora de “crescer espiritualmente” no cuidado e no bem-estar de outros irmãos e irmãs. É perfeitamente possível fazer a diferença em meio às dores deste mundo.  Que o povo do Japão saiba que Deus não esqueceu deles, que o povo de Santa Maria e de tantos outros lugares saibam que Deus os ama imensamente. 

“Tudo passou. Já não precisam mais navegar, enfrentar ondas e vencê-las.  Alegram-se por estarem em casa,  no Reino da vida sem fim. E assim viverão para sempre pelos séculos dos séculos.”(Leonardo Boff).


Sidnei Budke
Ministro Religioso da IECLB

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