Tema do Ano
Não és tu somente, ó Senhor, nosso Deus, o que fazes isto? Portanto, em ti esperamos (Jeremias 14.22 – Senhas Diárias) foi o versículo que abriu a reunião da Presidência e da Secretaria Geral da IECLB com os Pastores Sinodais, realizada na Pousada Betânia, em Curitiba/PR, de 13 a 16 de março.
A palavra de Jeremias não somente abriu os trabalhos nesta terça-feira, mas acompanhou os presentes durante o dia todo, que foi dedicado a três palestras sobre o Tema do Ano 2012 (Comunidade jovem - Igreja viva) e o Lema que o acompanha (Antes que eu te formasse no ventre, te conheci - Jeremias 1.5a), que tiveram como objetivo contextualizar o Tema do Ano e abastecer os Pastores Sinodais com subsídios para a condução do Tema da Igreja durante o ano em suas Paróquias, Comunidades e Pontos de Pregação.
A primeira palestra foi proferida pelo P. Dr. Martin Norberto Dreher, que relatou a criação do Ponto de Pregação Campestre-Orpheu, em São Leopoldo/RS, há 12 anos. Reflexo de uma Comunidade jovem - Igreja viva, o Ponto de Pregação reúne características destacadas por alguns dos seus membros e levadas pelo P. Dreher ao grande público: faceta de Comunidade peregrina, liberdade, simplicidade, espontaneidade, comprometimento, transparência, participação, partilha e comunhão de doenças e alegrias, acolhimento, convivência, solidariedade, prática do Sacerdócio de todos os crentes, Pregador que conhece cada um dos presentes e os inclui na pregação, contextualizando a Palavra bíblica, espiritualidade ´pé no chão´, resgate das tradições, inclusão das pluralidades, culto como aula de Teologia, História e Ensinamento Bíblico.
A partir destas reflexões, o P. Dreher fez alguns apontamentos. O primeiro foi a definição de Igreja como ´comunhão dos santos´, conceito que vem sendo deixado de lado em nome da ´lógica do mercado´, que não busca a comunhão, mas a satisfação do cliente. “Na Campestre, redescobrimos a importância da communio, que nos é dada na pessoa de Jesus, a Palavra de Deus, e nas ofertas que ele nos faz. Salvação a gente experimenta no Jesus que oferece comunhão com ele, com o Pai e com o Espírito Santo”, explicou.
O segundo termo apresentado foi ´Deus crucificado´. “Em meio a Teologias que oferecem sucesso, o grupo pequeno da Campestre experimentou que vida de fé não é exclusivamente sucesso, mas alegria apesar do sofrimento”, compartilhou o P. Dreher e acrescentou “No centro do Evangelho, está o Cristo crucificado e ressurreto. Nele vemos para onde Deus olha (Mateus 25) e aprendemos a mudar a orientação do nosso olhar. Isso gera comunhão que expressa sinais do Reino. Comunidade é antecipação do Reino concretamente experimentada também na Eucaristia”.
A terceira reflexão foi sobre ´pregação do Evangelho´. Os cultos no Ponto de Pregação envolvem liturgia inclusiva, contextualização do texto bíblico, história dos membros, liberdade para fazer perguntas, oração, celebração eucarística e bênção.
O último tópico abordado foi ´tradição´. O Pastor Martin Dreher contou que o uso do talar e da liturgia são bem aceitos, colocando a todos em uma tradição de dois milênios de fé cristã. No conceito luterano, o Ministério é da Comunidade e é ela quem serve o mundo com Palavra e Sacramento.
Uma outra visão de Comunidade jovem-Igreja viva foi apesentada pelo P. Julio Cezar Adam, com ideias para pensar o envolvimento das juventudes na vida comunitária da Igreja. O estudo envolveu o levantamento de estatísticas relacionadas à juventude, a indicação das mudanças comportamentais ocorridas nas últimas décadas na sociedade, bem como a juventude como espelho retrovisor da sociedade, além de fruto, resultado, consequência e sintoma dessa sociedade e das suas mudanças, desencadeadas pelos adultos. Para o P. Julio Cezar, não existe mais uma ideia de juventude que abranja todos os grupos, configurações, identidades e protagonismos juvenis, mas a Igreja ainda lida com uma ideia de juventude e um modelo de trabalho com jovens que há tempos não corresponde mais à realidade do jovem e, no máximo, abrange apenas um grupo específico de jovem. Além disso, a educação na fé conta com um modelo de família, um modelo de sociedade e de juventude que há tempos já não existe. No entanto, existem ´portas de entrada´, como, por exemplo, o interesse dos jovens por temas ecológicos, relação entre trabalho e educação, inclusão digital e tecnológica, respeito às diferenças, luta pela paz e fim da violência, responsabilidade social, arte e cultura, justamente espaços que faltam na comunidade eclesial.
Após relatar as experiências na Pastoral Escolar da Instituição Evangélica de Novo Hamburgo (IENH) , uma escola da Rede Sinodal de Educação, o P. Julio Cezar relacionou alguns caminhos no trabalho com jovens na Igreja: evitar o preconceito de ´jovem como faixa etária problemática´ e a idealização da juventude como única geração protagonista, além de entender que a espiritualidade juvenil se articula, se expressa e se abastece em elementos da cultura pop juvenil, como música, cinema, moda, marcas corporais, comportamento e, ainda, ter consciência que a pauta jovem é ampla, mas não exclusiva deles (gravidez, drogas, moda e consumo, entre outros). É necessário escutar o jovem (um jovem que é ouvido saberá ouvir!). Nesse sentido, a realização de uma pesquisa para descobrir quem são os jovens, o que fazem, o que precisam, qual a sua espiritualidade e que experiência de Igreja têm seria um recurso valioso. Também é fundamental identificar o que a Igreja quer e espera do jovem.
O Pastor Sinodal do Sínodo Sudeste, P. Guilherme Lieven, encerrou o ciclo de debates e capacitação sobre o Tema proposto para 2012, reconhecendo a nossa distância de informações e conhecimentos sobre o ´mundo´ das juventudes e comunicando uma ansiedade por definições e propostas de Igreja e Comunidade para o jovens.
O Pastor Sinodal questionou se o Tema do Ano trata sobre um rejuvenescimento das Comunidades: A maior participação de jovens para garantir uma Igreja viva? Uma Igreja viva depende de uma hegemonia da participação dos jovens? Casais, homens e mulheres, ao viverem a sua fé em Comunidade, sem os jovens, matam a Igreja de Jesus Cristo? Qual a dimensão da Igreja viva que os jovens garantem? A Igreja viva pode ajudar os jovens ou os jovens que ajudarão a Igreja morta ressuscitar? Existe uma Igreja morta? e responde “A proposta do Tema 2012 é abrir espaço para os jovens, motivar a interação comunitária das atuais Comunidades com os jovens (também na família, no trabalho, na escola e nas ruas), como afirma o Pastor Presidente da IECLB na apresentação do Guia de Estudos do Tema do Ano. Essa proposta comunica que os jovens em Comunidade são uma Igreja viva. Melhor: os jovens, ao optarem pelos valores da Comunidade - Evangelho, comunhão, gratidão solidariedade e serviço - e vivê-los, desenvolvem a dimensão comunitária da fé e revelam uma Igreja viva. Nesse caso específico, devido ao perfil dos jovens, consequentemente, motiva o desenvolvimento da dimensão profética das Comunidades”.
O P. Guilherme compartilhou informações sobre as mudanças sociais e no comportamento da juventude nos últimos 20 anos, bem como as perspectivas (e a falta delas) para os jovens na sociedade contemporânea. Cresceu o envolvimento dos jovens em novos espaços, com outras dinâmicas, agora mais vulneráveis e menos controlados pela sociedade. Chegaram as redes sociais, os relacionamentos virtuais - geralmente desprovidos de regras, padrões, limites e exigências. Paralelamente, há espaços ocupados pelos jovens e que sinalizam um horizonte: esportes, música, arte, educação e espiritualidade.
“A vocação da juventude é a esperança, a construção da esperança. Por meio do comportamento, das opções, dos ideais, das aptidões e da criatividade, a juventude vive e anuncia esperanças. A juventude tem o dom de desenhar traços que revelam realidades novas”, ressaltou o P. Guilherme, que finalizou a sua explanação afirmando que cabe ao Tema do Ano despertar a necessidade da construção de redes e da articulação de forças no meio plural e religioso, que cria identidade, conteúdos de fé, vivências comunitárias e interações com a sociedade de forma convergente, ou seja, cultivar a consciência do valor daquilo que já conhecemos e vivemos, porém aberto ao novo e ao processo de resignificação de conteúdos e valores e com um novo processo de ajuda, cuidado, vivência de fé e comunhão uns com os outros e com Deus.
Ainda no assunto Tema do Ano, o encontro do dia 13 de março encerrou com a apresentação do Tema e Lema do Ano para 2013, elaborado a partir das propostas feitas pelos Pastores Sinodais na reunião de setembro do ano passado com a Presidência da Igreja. Na ocasião, foi formado um Grupo de Trabalho composto por dois Pastores Sinodais, a Presidência da Igreja e a Secretaria de Formação para acolher e analisar as sugestões feitas no encontro. O resultado dos encaminhamentos foi compartilhado com os Pastores Sinodais, que ficaram muito satisfeitos com o enfoque escolhido para 2013, bem como com as diversas possibilidades de articular o novo Tema do Ano e com os possíveis resultados para a IECLB, para os seus membros e para o cumprimento da missão de Deus.
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