sábado, 1 de dezembro de 2012

Centenas de pessoas participam de seminário no Dia do Rio



 São Carlos - Com uma temática voltada aos problemas ambientais e sociais causados por um  modelo de desenvolvimento predatório, o seminário realizado no Dia do Rio (24), sábado, no salão comunitário de Pratas, em São Carlos, reuniu mais de 300 pessoas. A data está no calendário oficial de Santa Catarina a partir da Lei 13.748, aprovada em 2006, depois de um projeto apresentado pelo deputado Padre Pedro Baldissera (PT).
A atividade foi organizada pelo Fórum Permanente para Preservação do Aquífero Guarani e das Águas Superficiais, pelo Movimento dos Atingidos por Barragens, Via Campesina, Associação de Pescadores, Diocese de Chapecó, pastorais sociais, IECLB - Pastoral Popular Luterana, Paróquia São Carlos, prefeitura de São Carlos e Sintraf.
Na abertura dos debates, o presidente do Fórum do Aquífero Guarani, deputado Padre Pedro, lamentou a ausência de um debate aprofundado apontando para novas fontes energéticas, e disse que contradições como esta agravam os problemas ambientais em rios como o Uruguai, que banha São Carlos e já sofre com o excesso de barragens. “Os relatos dos pescadores e dos pesquisadores são preocupantes. Restou, num grande trecho do rio, apenas 20% da vazão original. Este impacto, junto da falta de políticas para proteção de mananciais e matas ciliares, gera um quadro de alerta grave”, afirmou Padre Pedro.
O deputado federal Pedro Uczai destacou a importância de um trabalho de conscientização voltado aos jovens e lembrou a ausência de um planejamento para enfrentar a escassez de água. “Enfrentamos estiagens e não vemos um plano que resolva os problemas. Precisamos debater com mais ênfase o programa nacional de cisternas, que reduz o impacto da falta de água nas comunidades”, disse.
Para  Cleomar Weber Kuhn, prefeito eleito de São Carlos, “se as ações sociais forem encampadas pelos movimentos de base, e juntos olharmos na mesma direção, mesmo diante da limitação de recursos disponíveis, poderemos encontrar caminhos para reverter o quadro que se apresenta. Esse desafio está nas mãos de vocês enquanto comunidades,  de nós como representante do poder público municipal, e dos nossos representantes no Congresso e Senado. Vamos contaminar com esse pensamento aos que estiverem dispostos a carregar conosco essa bandeira na defesa de um meio ambiente digno de ser entregue saudável às futuras gerações”, destacou o próximo prefeito de São Carlos.

Crise ambiental no sistema capitalista
 Para o professor doutor Ivo Marcos Theiss, da FURB, primeiro palestrante do seminário, a resolução dos problemas ambientais passa por uma revisão do modelo adotado pela sociedade. “Nós hoje consumimos muito mais recursos naturais do que o necessário. Nós extraímos da natureza matéria e energia numa quantidade absurda, quando não é necessário. Isso é uma crise de sistema”, defendeu. Para Theiss, a visão exclusivamente voltada ao lucro e à produção para o mercado tornou nossa sociedade refém de um sistema destrutivo. “Nossa sociedade é organizada para trabalhar pelo lucro de poucos. A construção civil é um bom exemplo disso: nunca se construiu tanto, mas os problemas de habitação persistem. Nossa preocupação está no mercado, e não com as necessidades das pessoas”, complementou.
 
Gestão da água
O engenheiro agrônomo da Epagri e secretário executivo do Projeto Microbacias (Chapecó/Irani), Ivan Baldissera, acredita que  a falta de investimento em saneamento básico é um dos principais gargalos da preservação ambiental, em especial da água, em Santa Catarina. “De cada 10 litro de esgoto, nove chegam aos rios sem tratamento. Conseguimos avançar na destinação dos dejetos suínos, com auxílio do Ministério Público, mas neste caso vivemos o caos. Apenas 11% de esgoto tratado é muito pouco para um estado como Santa Catarina”, denfedeu.

Impacto social e ambiental das barragens
O coordenador do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Pedro Melchiors, traçou um panorama preocupante para a região, em razão da possibilidade de novas barragens no Rio Uruguai. “Na região da Foz do Chapecó já estamos com 20% da vazão no rio. Sem falar em todos os problemas sociais causados, já que muitas famílias foram retiradas de suas terras sem qualquer preocupação com seu futuro”, afirmou.
 Melchiors denuncia a contradição entre o valor elevado da energia cobrado dos consumidores, e os altos lucros das concessionárias que constroem hidrelétricas. “O investimento é feito com dinheiro público e os lucros são exorbitantes, por 30 anos. Beneficia um pequeno grupo de empresas enquanto a população é penalizada com passivos ambientais e preços elevados”, disse. O coordenador do MAB defendeu o investimento nas pesquisas de fontes alternativas de produção de energia e a revisão do modelo energético brasileiro.
Melchiors ainda lembrou o peso social da construção de barragens: 12.800 famílias expulsas para a construção de sete usinas e 300 comunidades ainda aguardando uma solução, muitas delas vivendo em condições precárias. “Este é o resultado de um sistema que se volta somente ao lucro destas grandes empresas”, afirmou.
Caminhada e plantio de árvores
O encerramento do seminário ocorreu às margens do Rio Uruguai. Os participantes caminharam carregando bandeiras e uma cruz, que foi colocada junto a outra cruz, plantada no local há oito anos, que lembra as lutas das famílias atingidas por barragens e a necessidade de um cuidado mais efetivo em relação ao rio. Os participantes também plantaram mudas de árvores nativas nas margens do mesmo.     




Com informações do Expresso do Oeste - Palmitos/SC inseridas pelo Prof. Nilo Kolling - Assessor da Pastoral Popular Luterana

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