segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem


 Mateus 5.38-48
Neste ultimo domingo, na porta da igreja falávamos de vários assuntos, até que chegamos na segurança pública. Me assustou novamente a quantidade de pessoas do nosso meio sugerindo “pena de morte” para os “malvados”. Lembrei desse texto e lembrei que a tempo havia escrito o que segue abaixo, como eu sou o responsável pela meditação destes dias aí vai:
Gostaria de compartilhar e convidá-lo a ler o texto de Mateus 5.38-48...

Já no v.38 deste texto, Jesus aponta para um tema extremamente em alta, não só para a sua época, mas também para nós hoje, a saber, a vingança. Jesus cita a lei de talião que havia muito tempo, estava sendo usada na terra de Israel. Olho por olho, dente por dente não era novidade para os israelitas. Por outro lado, também não é novidade para nós.
Os fariseus eram os maiores praticantes desta lei. Levítico diz que aquele ou aquela que for pego em adultério deve ser morto, e por isso os fariseus queriam apedrejar a mulher que fora pega nesta situação. Os fariseus também não cumprimentavam os publicanos e as pessoas mais simples, pois acreditavam que os pecados destas pessoas ofendiam a Deus, e isso não podia acontecer. (O cumprimento da época era; “Paz seja contigo”). Ou seja os fariseus não queriam paz para os “pecadores” do ponto de vista deles.
Mas seguindo o texto, vem também a palavra; “se alguém te ferir a face direita”. A pior coisa para a honra de um judeu era ser surpreendido com uma pancada no rosto. A isto, geralmente se reagia com agressão maior ainda, ou até mesmo com a morte.
No entanto, não são apenas os fariseus os praticantes da lei de Talião. Também nós consideramos a vingança em alto preço. Até sabemos como ela é melhor, pois o nosso ditado diz que “vingança é um prato que se come frio”. Vivemos tão envolvidos nas pequenas e grandes vinganças, nos pequenos e grandes ódios que já nem notamos o que se passa conosco e ao nosso redor. Não notamos mais com que facilidade se exige a pena de morte de uns e se aceita a liberdade de outros. Isso parece uma selva, uns correm para morder com força, e outros correm inutilmente para se defender.
Mas não é apenas nessas grandes coisas que a injustiça aparece. Basta alguém nos chutar a canela, e já queremos devolver quebrando a canela do outro, apenas por vingança. Na atualidade, se o filho grita, o Pai responde com o dobro da voz, se é o Pai que grita, o filho mal escuta e aí sai chutando a porta e resmungando. E olha que isso são coisas extremamente pequenas, imaginem vocês o que somos capazes de fazer por causa de coisas maiores. No entanto, não são só essas coisas pessoais que são injustiça. Também, o racismo é questão de injustiça, também a criança de rua, o morador da ponte e o idoso sem teto, são injustiças. Os poderosos, que poderiam ajudar, pelo contrário, ficam cada vez mais ricos, sempre oprimindo os desfavorecidos.
 Sabemos claramente que por seu instinto de sobrevivência, o ser humano nunca vai deixar de reagir, nunca vai deixar de cometer injustiças. Mas enquanto a reação estiver dentro de parâmetros saudáveis, não há problema, mas ultimamente não temos mais sabido distinguir o que é saudável e o que é prejudicial ao próximo.
Também por isso, o Antigo Testamento fez leis rígidas para que não houvesse abuso. Mas essas leis, no tempo de Jesus já estavam muito distorcidas pelos fariseus, e então Jesus renova-as. Àquelas leis rudes, àquelas leis vingativas, Jesus acrescenta algo totalmente novo. Jesus acrescenta o amor. Jesus praticamente diz; “não pode ser mais dente por dente, tem que ser de outra maneira têm que ser assim; se alguém te bater em um lado do rosto ofereça também o outro, se alguém te pedir parte do que é teu, daí-lhe em dobro...” vejam que Jesus inverte a atualidade, ao invés de pagar mal com mal, Jesus propõe pagar mal com bem. Vejam que quando Jesus diz aos seus discípulos para fazerem o bem, Ele quer mostrar a ignorância do malfeitor.
Portanto, com essa inversão de valores, Jesus quer dizer aos seus discípulos que eles, como seus seguidores, não podem mais se deixar levar pela má conduta de outros. Aliás os discípulos de Jesus são por Ele, sempre de novo, convidados a não se deixarem governar pela maldade. Não podem tornar-se escravos de seus caprichos e atos maldosos, que retribuem com injustiça ainda maior, e ofensa ainda mais grave. Pois o que deve guiar um discípulo de Jesus é única e exclusivamente a palavra de Deus. Discípulos de Jesus são grandes demais para se deixar afetar pela violência do outro, pela injustiça do outro. Afinal de contas o braço de Deus é mais longo. Ele sabe cada palavra que causou desgraça e dor. Por isso, é melhor sofrer injustiça, do que cometer a menor das desgraças.
Notem, pois, que o amor muda tudo. Se reagirmos a uma briga com outra briga, iremos acabar no caus. Mas se reagirmos a uma ofensa com amor, vai haver transformação. O amor causa comunhão, causa aproximação. O amor cristão é aquele que leva a amar até mesmo aquele que não merece ser amado. E esse amor traz sabedoria, pois é um amor baseado em Deus, é um amor que tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta (1Co 13.7). O amor, constantemente tem que ser usado contra o mal.
Não se enganem pensando que o amor de Deus não incomoda ninguém. Aliás, muito pelo contrário, o amor de Deus constrange aquele que agride, constrange àquele que pratica a injustiça.
Com seu amor Jesus tranqüilizou o coração dos cegos, dos coxos, dos endemoniados, da mulher adúltera, da sogra de Pedro e de outras tantas pessoas. Vejam que todas estas pessoas estavam mergulhadas na injustiça cotidiana. Também, o amor de Jesus, incomodou a cúpula romana, constrangeu os negociantes do templo e jamais agradou aos fariseus, que por demais gostavam de injustiças. Penso que hoje, nós como Igreja Cristã não temos incomodado nenhum pouco aos poderosos e opressores. Temo então, que estamos desagradando aos oprimidos que gritam por socorro.
Certa vez, Aristides, um filósofo, ateu, que vivia perto de um grupo cristão, escreveu o seguinte;
“Os cristãos andam em humildade e bondade, não existe falsidade entre eles, amam uns aos outros, não desprezam as viúvas, nem molestam o órfão. Aquele que tem dá liberalmente para o que não tem. Quando encontram um estrangeiro, logo lhe dão acolhida e se alegram como se fosse um irmão. Porque eles se chamam de irmãos no Espírito de seu Deus.”
 Portanto penso que o gelo não derrete com tempestade e geada, mas sim com calmaria e calor do sol. Ódio e desejo de vingança, egoísmo e ira, a língua maldosa e o coração endurecido são dissolvidos pelo amor. Mas para que isto aconteça, nós precisamos levar a sério à palavra restante do texto que diz;

Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem; para que vos torneis filhos do vosso Pai celeste, porque ele faz nascer o sol sobre maus e bons e vir chuvas sobre justos e injustos. Porque, se amardes os que vos amam, que recompensa tendes? Não fazem o mesmo os publicanos? E, se saudardes somente os vossos irmãos, que fazeis mais? Não fazem os gentios o mesmo? Portanto, sede vós perfeitos como perfeito é o vosso Pai celeste.


Amém. 

P. Jonas Ronei Gunsch – Ernestina-RS.

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