sábado, 20 de abril de 2013

“O pão nosso de cada dia dá-nos hoje” Mateus 6.11



Sim, a colheita da soja, na região onde moro, está chegando ao fim. Logo os campos receberão as sementes das culturas de inverno, e a maioria deles estará cheia de trigais. As fases de plantio e colheita são intensas, envolvem toda a família. A Comunidade também participa, adaptando os horários de sua programação para que os agricultores e as agricultoras possam realizar o plantio, como também a colheita.
Cada semente lançada ao solo é ali depositada com esperança de uma colheita farta, de que o pão esteja em nossas mesas, de que o árduo trabalho seja recompensado com frutos em abundância. Pedimos que o tempo seja favorável, que tudo corra bem, que a colheita aconteça e que as nossas fomes e necessidades possam ser saciadas.
É possível perceber que estamos no final da colheita. Agricultores e agricultoras cansadas, olhos vermelhos, pele queimada pela longa exposição ao sol. É dura a batalha pelo pão de cada dia!
Visitando uma família, conversei com o agricultor. Ele estava feliz, pois havia terminado a colheita no dia anterior: “Nós fizemos uma boa colheita, Pastora... Uma boa colheita”. Então ele olhou para o chão e continuou: “É uma pena que a gente cada vez mais está afundado no veneno. Sabe, Pastora, essa soja transgênica pede da gente muito mais aplicações de ‘remédio’ prá combater as pragas. A cada poucos dias a gente precisa pulverizar a lavoura e antes, quando não tinha transgênico, não era tanto veneno que a gente usava.” Dava para perceber, a cada palavra que ele dizia, muitos sentimentos de medo, angústia, cansaço. “E pensar, Pastora, que quando começou a se falar das sementes transgênicas, tinha agricultor que ia até o Paraguai e trazia a semente transgênica de lá, pois aqui ela ainda era proibida...”.
Sabe, a conversa do agricultor me pegou desprevenida. Eu queria tanto me alegrar com o final da colheita, com a boa produtividade, mas o olhar triste do homem, suas palavras dolorosamente ditas apertaram meu coração. Sim, é verdade, queremos e precisamos do “pão nosso” em nossas vidas. Mas cada vez é mais difícil conseguir esse pão de modo digno, sem ferir a natureza, sem entregar a vida e a saúde nas longas jornadas de trabalho, na grande exposição a substâncias tóxicas, tanto no campo como na cidade! Diante desse contexto somos lembrados e lembradas da oração de Jesus, pedido pelo pão, orando confiantemente para que nada nos falte: alimento, moradia, trabalho digno, família e amigos, um governo justo, uma Comunidade viva, uma vida em abundância. Lembrei que nós “vivemos Comunidade”, como diz o tema da IECLB para esse ano, quando também participamos e nos comprometemos em buscar e garantir esse pão digno para todos e todas.
“Deus, obrigada pela alegria da colheita, obrigada pelo trabalho e pelo estudo, e por todas as tuas dádivas. Obrigada pelo pão de cada dia! Fortalece-nos e desafia-nos a sermos pessoas ativas na fé, para que o nosso sustento seja conseguido sem ferir a natureza, a nossa saúde e a nossa dignidade. Dá-nos a tua Sabedoria e mantém nossas Comunidades unidas nesse propósito. Amém!”
Soja, mais de 90% já colhido na região do Sínodo

Pastora Carla Andrea Grossmann – Coronel Barros

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