Sim, a colheita da soja, na
região onde moro, está chegando ao fim. Logo os campos receberão as sementes
das culturas de inverno, e a maioria deles estará cheia de trigais. As fases de
plantio e colheita são intensas, envolvem toda a família. A Comunidade também
participa, adaptando os horários de sua programação para que os agricultores e
as agricultoras possam realizar o plantio, como também a colheita.
Cada semente lançada ao solo é
ali depositada com esperança de uma colheita farta, de que o pão esteja em
nossas mesas, de que o árduo trabalho seja recompensado com frutos em
abundância. Pedimos que o tempo seja favorável, que tudo corra bem, que a
colheita aconteça e que as nossas fomes e necessidades possam ser saciadas.
É possível perceber que estamos
no final da colheita. Agricultores e agricultoras cansadas, olhos vermelhos,
pele queimada pela longa exposição ao sol. É dura a batalha pelo pão de cada
dia!
Visitando uma família, conversei
com o agricultor. Ele estava feliz, pois havia terminado a colheita no dia
anterior: “Nós fizemos uma boa colheita,
Pastora... Uma boa colheita”. Então ele olhou para o chão e continuou: “É uma pena que a gente cada vez mais está
afundado no veneno. Sabe, Pastora, essa soja transgênica pede da gente muito
mais aplicações de ‘remédio’ prá combater as pragas. A cada poucos dias a gente
precisa pulverizar a lavoura e antes, quando não tinha transgênico, não era
tanto veneno que a gente usava.” Dava para perceber, a cada palavra que ele
dizia, muitos sentimentos de medo, angústia, cansaço. “E pensar, Pastora, que quando começou a se falar das sementes
transgênicas, tinha agricultor que ia até o Paraguai e trazia a semente
transgênica de lá, pois aqui ela ainda era proibida...”.
Sabe, a conversa do agricultor me
pegou desprevenida. Eu queria tanto me alegrar com o final da colheita, com a
boa produtividade, mas o olhar triste do homem, suas palavras dolorosamente
ditas apertaram meu coração. Sim, é verdade, queremos e precisamos do “pão
nosso” em nossas vidas. Mas cada vez é mais difícil conseguir esse pão de modo
digno, sem ferir a natureza, sem entregar a vida e a saúde nas longas jornadas
de trabalho, na grande exposição a substâncias tóxicas, tanto no campo como na
cidade! Diante desse contexto somos lembrados e lembradas da oração de Jesus,
pedido pelo pão, orando confiantemente para que nada nos falte: alimento,
moradia, trabalho digno, família e amigos, um governo justo, uma Comunidade
viva, uma vida em abundância. Lembrei que nós “vivemos Comunidade”, como diz o
tema da IECLB para esse ano, quando também participamos e nos comprometemos em
buscar e garantir esse pão digno para todos e todas.
“Deus, obrigada pela alegria da colheita, obrigada pelo trabalho e pelo
estudo, e por todas as tuas dádivas. Obrigada pelo pão de cada dia!
Fortalece-nos e desafia-nos a sermos pessoas ativas na fé, para que o nosso
sustento seja conseguido sem ferir a natureza, a nossa saúde e a nossa
dignidade. Dá-nos a tua Sabedoria e mantém nossas Comunidades unidas nesse
propósito. Amém!”
Soja, mais de 90% já colhido na região do Sínodo |
Pastora Carla Andrea Grossmann – Coronel
Barros
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