IGREJA EVANGÉLICA DE CONFISSÃO LUTERANA NO BRASIL - IECLB
30º CONGRESSO DA REDE SINODAL DE EDUCAÇÃO
22 a 24 de julho de 2014 – Porto Alegre, RS
MENSAGEM
Escola Luterana – Espaço de Cuidado
1.
A REDE SINODAL DE EDUCAÇÃO, expressão da educação formal da Igreja
Evangélica de Confissão Luterana no Brasil - IECLB, reunida em seu 30º
Congresso da educação básica, na cidade de Porto Alegre, RS, de 22 a 24 de
julho de 2014, saúda todos os congressistas e demais colaboradores das escolas
filiadas, além de saudar todos os integrantes das comunidades escolares, das
demais entidades envolvidas com educação, das autoridades educacionais e da
sociedade em geral.
2.
O debate em torno do tema “Escola
Luterana – Espaço de Cuidado” é um claro indicativo do compromisso da
entidade com a superação do impasse educacional que se manifesta na pouca
valorização, na massificação, nas desigualdades regionais e na mercantilização
da educação, que se abate sobre o Brasil nestes tempos de muitas propostas e de
poucos resultados efetivos na eliminação dos entraves que aprisionam parte da
população brasileira à mediocridade, à obscuridade e à falta de condições para
competir em um contexto de alta complexidade.
3.
As instituições que
integram a Rede Sinodal de Educação se empenham no cumprimento de sua missão
educativa neste país e se sentem comprometidas com o futuro da nação, com a
certeza de que estão contribuindo, nos seus limites, para a promoção e o
desenvolvimento da sociedade brasileira, com atenção especial às diretrizes da
educação evangélico-luterana e às diretrizes e metas do Plano Nacional de Educação (PNE)
do país, com vigência a partir de 26 de junho último, data em que foi sancionado
pela Presidente da República.
4.
As diretrizes do Plano
Nacional de Educação são estímulo e compromisso da Rede Sinodal de Educação na
parceria com o poder público nesse desafio de colocar o país em novos patamares
sociais e éticos, na esperança e na perspectiva de que a sociedade brasileira
possa entender a educação como uma alavanca essencial para o cultivo de valores,
de novas condutas, de novas atitudes e de novas práticas na construção de uma
cultura do cuidado.
5.
Das diretrizes destacadas no novo Plano Nacional de Educação, a Rede
Sinodal de Educação entende que pode colocar-se como parceira do poder público
na consecução de uma nova educação por ele preconizada, identificando-se de
forma especial com as seguintes: I – a erradicação do
analfabetismo; II – a universalização do
atendimento escolar; III – a superação das
desigualdades educacionais, com ênfase na promoção da cidadania e na
erradicação de todas as formas de discriminação; IV –
a melhoria da qualidade da educação; V – a formação para o trabalho e
para a cidadania, com ênfase nos valores morais e éticos em que se fundamenta a
sociedade; VII – a promoção humanística, científica, cultural e
tecnológica do País; IX - a valorização dos (as)
profissionais da educação; X - a promoção dos princípios do
respeito aos direitos humanos, à diversidade e à sustentabilidade
socioambiental.
6.
A Rede Sinodal de Educação assume a firme crença de que a qualidade
educativa não consiste apenas na utilização da tecnologia sem qualquer
compromisso com a promoção do ser humano envolvido; acredita que o segredo está
na humanização da relação entre professor e aluno, eventualmente mediada por
recursos tecnológicos em situações especiais, sempre que isso puder ser
colocado a serviço da mobilização e da promoção dos aprendentes envolvidos.
7.
Para a Rede Sinodal de Educação, que se fundamenta em princípios evangélico-luteranos,
educação é expressão de cuidado, que se faz com cuidado, um cuidado que
significa ocupar-se com responsabilidade por aquele que vive e convive conosco.
Trata-se de um cuidado que pressupõe uma ação tríplice: conhecer bem o que se
cuida, estar disposto à possibilidade e envolver-se afetivamente. Um cuidado
que não permite acomodação e a passividade, mas que incentiva e que acolhe as
partes envolvidas, que apostam em novos futuros e em novos mundos possíveis.
8.
O projeto da Rede Sinodal de Educação privilegia, em
primeiro lugar, a formação de seres humanos, criados por Deus, cidadãos
comprometidos com a vida, sustentada no princípio do cultivo do cuidado, como
caminho para a construção de uma vivência do amor, da justiça e da paz, na
convicção de que isso se concretiza nas práticas pedagógicas diárias
resultantes da relação entre professor e aluno em um contexto favorável.
9.
Segundo Débora Raquel Klesener Conrad (painelista), o cuidado na escola
passa pela postura de cada pessoa que integra o ambiente escolar. É na relação
com o outro que o cuidado se manifesta e se fortalece. Esta postura desencadeia
outras relações de cuidado que podem, inclusive, transcender os muros da
escola. Nesse sentido, o espaço escolar tem um importante papel na semeadura de
uma nova cultura que brota a partir de pequenos gestos do dia a dia. Atentos e
atentas à prática de Jesus, que tão bem cuidou e acolheu, podemos aprender uma
“atitude de cuidado”, pois ele expressou de maneira concreta e visível o
cuidado consigo e com o próximo.
10. Pedro Savi Neto (painelista) entende o conceito de justiça como sendo intimamente ligado e indissociável da
noção de ética enquanto instância de construção do humano pela sua
responsabilidade pelo outro, conduzindo a uma inevitável reflexão sobre o
direito e suas possibilidades de oferecer efetiva proteção à criança e ao
adolescente, indivíduos mais vulneráveis da sociedade. Em um contexto de crise
do sentido de humanidade e de exacerbado individualismo, a existência de uma
extensa legislação nacional sobre o tema não parece ser suficiente para
garantir aos infantes o cuidado necessário para o seu desenvolvimento saudável.
Nesse sentindo, cumpre realizar uma reflexão radical sobre o direito e os seus
limites de possibilidade.
11. Para Julio Cesar Walz (painelista), cuidar é uma
arte. O seu ofício requer um desprendimento da realidade para que sobre ela
possamos projetar a imaginação e criar alternativas de solução. A realidade
bruta não nos oferece saída. Ela é crua, contundente e imperiosa. Para vivermos
com arte ou para cuidarmos, temos a necessidade de imaginar, justamente para
que possamos operar com esperança e efetividade.
12. O Professor Miguel G.
Arroyo (palestrante) traz uma reflexão sobre o papel da educação e da ética na
gestão de pessoas para a sustentabilidade, mantendo como referência
possibilidades e limites. Questiona a política pedagógica que é adotada na
gestão e na formação de pessoas nas funções culturais e econômicas de uma
empresa, além de fazer uma análise das funções contextualizadas, como economia
globalizada, movimentos sócio-globalizados, unidade e diversidade. Nesse
universo, se pergunta sobre as dimensões a serem privilegiadas na gestão
formadora de pessoas – formação humana plena, cidadania, direitos do trabalho,
crises do trabalho e direitos ameaçados.
Valores, ética, cultura, formação e sustentabilidade são condições para
que a igualdade na diversidade cultural possa alcançar êxito.
13.
O Teólogo e Professor Leonardo Boff (palestrante) faz uma reflexão
crítica profunda a respeito do cuidado, tendo como objeto de análise o ser
humano, o Planeta Terra e a questão ambiental. O ser humano, ser pensante,
habita o Planeta Terra e nele vai constituir o meio ambiente. O cuidado que se
espera do ser humano para com o manuseio dos bens naturais não acontece de
forma adequada, e isso causa um desequilíbrio ambiental. A causa maior,
possivelmente, seja o fato de o ser humano não conhecer bem a si mesmo. A
cultura materialista, o consumismo exagerado, a prevalência do ter sobre o ser
acabam afetando a questão ambiental. Boff sugere uma nova relação do ser humano
para com ele mesmo e dele com a Terra e seus bens naturais, o que deve também garantir
um meio ambiente de qualidade, que possa garantir VIDA a todos os seres deste
planeta.
14.
As conferências, o
painel, os mini cursos, os compartilhamentos e as atividades em grupos de
reflexão constituíram um mosaico de abordagens que bem caracterizam o jeito
luterano de lidar com os grandes temas da educação brasileira, reafirmando e
fortalecendo a contribuição das escolas integrantes da Rede Sinodal de Educação
para a educação brasileira.
15.
Os mil participantes do
30º Congresso da Rede Sinodal de Educação se sentem comprometidos com um
projeto de educação de qualidade, certos de sua contribuição para a promoção e
o desenvolvimento do ser humano na sociedade global com responsabilidade e
compromisso com o cuidado da vida em sua plenitude, na tentativa de garantir a
qualidade de vida e a dignidade humana.
16.
Consideram que estão
diante de uma tarefa complexa, fundamental para o desenvolvimento de
aprendizagens, condutas, valores e vivências, cuidando de si mesmos, com base
no pressuposto de que cuidar de si é condição para cuidar do outro, com um
olhar voltado para a diversidade na esfera da educação. Sentem-se comprometidos
com todos aqueles que necessitam do cuidado do outro, em todos os sentidos,
inclusive com o meio ambiente
17.
A Igreja Evangélica de
Confissão Luterana no Brasil – IECLB, através das escolas
e dos professores que atuam na Rede Sinodal, vive a esperança e a expectativa de
estar contribuindo para a construção, no Brasil, de uma sociedade mais justa,
mais fraterna, mais humana, mais cuidadora e mais cuidada, plantando a cada dia
muitas macieiras, regando-as de forma adequada, para que possam dar muitos e
valiosos frutos.
Porto Alegre, 24 de julho de 2014
Nenhum comentário:
Postar um comentário