Mateus 5.38-48
Neste ultimo
domingo, na porta da igreja falávamos de vários assuntos, até que chegamos na
segurança pública. Me assustou novamente a quantidade de pessoas do nosso meio
sugerindo “pena de morte” para os “malvados”. Lembrei desse texto e lembrei que
a tempo havia escrito o que segue abaixo, como eu sou o responsável pela
meditação destes dias aí vai:
Gostaria de
compartilhar e convidá-lo a ler o texto de Mateus 5.38-48...
Já no v.38
deste texto, Jesus aponta para um tema extremamente em alta, não só para a sua
época, mas também para nós hoje, a saber, a vingança. Jesus cita a lei de
talião que havia muito tempo, estava sendo usada na terra de Israel. Olho por
olho, dente por dente não era novidade para os israelitas. Por outro lado,
também não é novidade para nós.
Os fariseus
eram os maiores praticantes desta lei. Levítico diz que aquele ou aquela que
for pego em adultério deve ser morto, e por isso os fariseus queriam apedrejar
a mulher que fora pega nesta situação. Os fariseus também não cumprimentavam os
publicanos e as pessoas mais simples, pois acreditavam que os pecados destas
pessoas ofendiam a Deus, e isso não podia acontecer. (O cumprimento da época
era; “Paz seja contigo”). Ou seja os fariseus não queriam paz para os “pecadores”
do ponto de vista deles.
Mas seguindo o
texto, vem também a palavra; “se alguém te ferir a face direita”. A pior
coisa para a honra de um judeu era ser surpreendido com uma pancada no rosto. A
isto, geralmente se reagia com agressão maior ainda, ou até mesmo com a morte.
No entanto,
não são apenas os fariseus os praticantes da lei de Talião. Também nós
consideramos a vingança em alto preço. Até sabemos como ela é melhor, pois o
nosso ditado diz que “vingança é um prato que se come frio”. Vivemos tão
envolvidos nas pequenas e grandes vinganças, nos pequenos e grandes ódios que
já nem notamos o que se passa conosco e ao nosso redor. Não notamos mais com
que facilidade se exige a pena de morte de uns e se aceita a liberdade de
outros. Isso parece uma selva, uns correm para morder com força, e outros
correm inutilmente para se defender.
Mas não é
apenas nessas grandes coisas que a injustiça aparece. Basta alguém nos chutar a
canela, e já queremos devolver quebrando a canela do outro, apenas por
vingança. Na atualidade, se o filho grita, o Pai responde com o dobro da voz,
se é o Pai que grita, o filho mal escuta e aí sai chutando a porta e
resmungando. E olha que isso são coisas extremamente pequenas, imaginem vocês o
que somos capazes de fazer por causa de coisas maiores. No entanto, não são só
essas coisas pessoais que são injustiça. Também, o racismo é questão de
injustiça, também a criança de rua, o morador da ponte e o idoso sem teto, são
injustiças. Os poderosos, que poderiam ajudar, pelo contrário, ficam cada vez
mais ricos, sempre oprimindo os desfavorecidos.
Sabemos claramente que por seu instinto de
sobrevivência, o ser humano nunca vai deixar de reagir, nunca vai deixar de
cometer injustiças. Mas enquanto a reação estiver dentro de parâmetros saudáveis,
não há problema, mas ultimamente não temos mais sabido distinguir o que é
saudável e o que é prejudicial ao próximo.
Também por
isso, o Antigo Testamento fez leis rígidas para que não houvesse abuso. Mas
essas leis, no tempo de Jesus já estavam muito distorcidas pelos fariseus, e
então Jesus renova-as. Àquelas leis rudes, àquelas leis vingativas, Jesus
acrescenta algo totalmente novo. Jesus acrescenta o amor. Jesus praticamente
diz; “não pode ser mais dente por dente, tem que ser de outra maneira têm
que ser assim; se alguém te bater em um lado do rosto ofereça também o outro,
se alguém te pedir parte do que é teu, daí-lhe em dobro...” vejam que Jesus
inverte a atualidade, ao invés de pagar mal com mal, Jesus propõe
pagar mal com bem. Vejam que quando Jesus diz aos seus discípulos para
fazerem o bem, Ele quer mostrar a ignorância do malfeitor.
Portanto, com
essa inversão de valores, Jesus quer dizer aos seus discípulos que eles, como
seus seguidores, não podem mais se deixar levar pela má conduta de outros.
Aliás os discípulos de Jesus são por Ele, sempre de novo, convidados a não se deixarem
governar pela maldade. Não podem tornar-se escravos de seus caprichos e atos
maldosos, que retribuem com injustiça ainda maior, e ofensa ainda mais grave.
Pois o que deve guiar um discípulo de Jesus é única e exclusivamente a palavra
de Deus. Discípulos de Jesus são grandes demais para se deixar afetar pela
violência do outro, pela injustiça do outro. Afinal de contas o braço de Deus é
mais longo. Ele sabe cada palavra que causou desgraça e dor. Por isso, é melhor
sofrer injustiça, do que cometer a menor das desgraças.
Notem, pois,
que o amor muda tudo. Se reagirmos a uma briga com outra briga, iremos acabar
no caus. Mas se reagirmos a uma ofensa com amor, vai haver transformação. O
amor causa comunhão, causa aproximação. O amor cristão é aquele que leva a amar
até mesmo aquele que não merece ser amado. E esse amor traz sabedoria, pois é
um amor baseado em Deus, é um amor que tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta
(1Co 13.7). O amor, constantemente tem que ser usado contra o mal.
Não se enganem
pensando que o amor de Deus não incomoda ninguém. Aliás, muito pelo contrário,
o amor de Deus constrange aquele que agride, constrange àquele que pratica a
injustiça.
Com seu amor
Jesus tranqüilizou o coração dos cegos, dos coxos, dos endemoniados, da mulher
adúltera, da sogra de Pedro e de outras tantas pessoas. Vejam que todas estas
pessoas estavam mergulhadas na injustiça cotidiana. Também, o amor de Jesus,
incomodou a cúpula romana, constrangeu os negociantes do templo e jamais
agradou aos fariseus, que por demais gostavam de injustiças. Penso que hoje,
nós como Igreja Cristã não temos incomodado nenhum pouco aos poderosos e
opressores. Temo então, que estamos desagradando aos oprimidos que gritam por
socorro.
Certa vez, Aristides, um filósofo, ateu, que vivia perto de um grupo
cristão, escreveu o seguinte;
“Os cristãos andam em humildade e bondade, não existe falsidade entre
eles, amam uns aos outros, não desprezam as viúvas, nem molestam o órfão.
Aquele que tem dá liberalmente para o que não tem. Quando encontram um
estrangeiro, logo lhe dão acolhida e se alegram como se fosse um irmão. Porque
eles se chamam de irmãos no Espírito de seu Deus.”
Portanto
penso que o gelo não derrete com tempestade e geada, mas sim com calmaria e
calor do sol. Ódio e desejo de vingança, egoísmo e ira, a língua maldosa e o
coração endurecido são dissolvidos pelo amor. Mas para que isto aconteça, nós
precisamos levar a sério à palavra restante do texto que diz;
Amai os
vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem; para que vos torneis filhos do
vosso Pai celeste, porque ele faz nascer o sol sobre maus e bons e vir chuvas
sobre justos e injustos. Porque, se amardes os que vos amam, que recompensa
tendes? Não fazem o mesmo os publicanos? E, se saudardes somente os vossos
irmãos, que fazeis mais? Não fazem os gentios o mesmo? Portanto, sede vós
perfeitos como perfeito é o vosso Pai celeste.
Amém.
P. Jonas Ronei Gunsch
– Ernestina-RS.